O Exército Brasileiro escreve um novo capítulo em sua história neste domingo (1º), ao promover seis mulheres à graduação de subtenente. Este é um marco inédito, pois pela primeira vez, o segmento feminino alcança o topo da carreira dos praças na Força. Uma delas é a cachoeirense – e agora, subtenente – Aline, que diz ser apaixonada pelo Exército, despertada desde a infância, acompanhando as formaturas de seu pai, que foi sargento.
Com agens pelo Hospital Militar de Área de Porto Alegre, Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira, Escola Preparatória de Cadetes do Exército, Companhia de Comando da 11ª Brigada de Infantaria Mecanizada em Campinas e, por fim, no Laboratório Químico Farmacêutico do Exército, Aline celebra o reconhecimento. “Estou muito feliz e honrada por ter tido o privilégio de compor a primeira turma do segmento feminino de carreira do Exército. A promoção vem como esse reconhecimento do trabalho e dedicação por todos esses anos”, afirma.
Além da cachoeirense Aline, as promovidas que fazem história são Cláudia, Ana Carolina, Lucimar, Walkiria e Julia Caetano, todas do Serviço de Saúde, e que celebram a ascensão após 23 anos de formação que as consolidaram como militares de carreira.
As militares fazem parte de uma turma pioneira em 2002, que formou 16 mulheres e quatro homens como terceiros-sargentos. Naquela época, o curso de formação tinha 10 meses de duração, dividido entre a Escola de Instrução Especializada (EsIE) e a antiga Escola de Saúde do Exército (EsSEx).
Trajetórias de destaque e inspiração 2f5a3l
A subtenente Cláudia, que atualmente serve na Divisão de Saúde Operacional do Comando Logístico, em Brasília, teve de se mudar de Fortaleza para o Rio de Janeiro ao ingressar na Força. Sua trajetória inclui agens por hospital militar, atuação na selva e em escolas de formação, demonstrando a versatilidade de suas atuações ao longo desses 23 anos de serviço. Sobre a emoção da promoção, ela destaca: “Mais de 20 anos que, para falar a verdade, a gente não vê ar. É no piscar de olhos, quando a gente percebe, você vai ser subtenente, e a responsabilidade só aumenta”, enfatiza. “Nós conseguimos executar as mesmas coisas que o segmento masculino consegue executar. As dificuldades foram superadas. A prova disso é que hoje estamos nos tornando subtenentes”, completa Cláudia.
Já a subtenente Ana Carolina teve a Marinha do Brasil como seu primeiro contato com o ambiente militar, inspirada por seu tio enfermeiro militar. Sua jornada no Exército começou em 2000, como sargento técnica temporária em São Paulo. Durante a formação, ela se destacou como primeira colocada e teve o privilégio de receber a boina das mãos do então Comandante da 2ª Região Militar, General Enzo Martins Peri, que anos depois se tornaria Comandante do Exército.
Em 2002, ela ingressou na primeira turma de mulheres sargento de carreira. Após servir no Hospital Militar de Área de São Paulo e no Hospital Central do Exército no Rio de Janeiro, ela está agora no Hospital Militar de Área de Brasília. “Está ando um filme em minha cabeça. Durante esses 25 anos, contando o tempo como temporária, cresci e aprendi demais. Cada desafio superado, cada obstáculo vencido, me fez mais forte e determinada”, compartilha. “Não será fácil, mas não tenham medo de sonhar grande e trabalhar duro para alcançar seus objetivos. Acreditem em si mesmas e nunca desistam!”, reforça.
A subtenente Lucimar também destaca a emoção do momento. “A expectativa é grande, pois já se aram 23 anos. Reencontrando a turma, somos 16 mulheres, cada uma com a sua história, e é bom ver como a gente amadureceu, a nossa trajetória e onde cada uma chegou”, relata a militar, que hoje serve no Escalão de Saúde da 12ª Região Militar. Sua história inclui a influência de irmãs sargentos da Força Aérea e experiências marcantes como o serviço na selva, em Pelotão de Fronteira e a participação no contingente do Haiti em 2009, onde atuou durante o terremoto de 2010. Ela também fez história como uma das primeiras mulheres paraquedistas e atuou na segurança feminina da Presidência da República. “Tudo o que eu quis fazer no Exército, eu fui reconhecida, eu fui escolhida e isso eu falo com muito orgulho”, conclui.
Também integrando o grupo pioneiro, a subtenente Walkiria foi inspirada por seu avô, um subtenente de artilharia, cujas histórias despertaram nela o desejo de ingressar nas Forças Armadas. Walkiria serviu no Hospital Geral de Belém e agora está no Hospital de Guarnição de Natal. A militar está muito feliz e realizada com a promoção. “Só desejo que nossa turma possa servir de exemplo e inspirar as gerações mais jovens”, destaca.
Para a subtenente Julia Caetano, a decisão de seguir carreira no Exército surgiu enquanto estudava para um concurso da Aeronáutica e soube que a Força Terrestre estava com inscrições abertas para Técnicos em Enfermagem e imediatamente se inscreveu. Ela já serviu no Hospital Central do Exército, no Hospital de Guarnição de Marabá e na Odontoclínica Central do Exército e, atualmente, está no Hospital Militar de Área de Manaus. “A expectativa é de alegria, nostalgia e gratidão a Deus, por ter permitido chegar até este momento, pela minha família que sempre me acompanhou e às amizades que foram feitas ao longo destes 23 anos de serviço”, comemora.
Um caminho aberto pela História e em expansão 3h6m2d
A promoção a subtenente de militares como a cachoeirense Aline e suas colegas – Cláudia, Ana Carolina, Lucimar, Walkiria e Julia Caetano – reflete a crescente e consolidada presença feminina na Força Terrestre. A participação das mulheres no Exército do Brasil tem uma história que começou com a figura emblemática de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, na Guerra da Independência em 1823.
Ao longo do tempo, o papel feminino foi se expandindo. Enfermeiras voluntárias atuaram na Segunda Guerra Mundial, e em 1992, 52 mulheres ingressaram no Quadro Complementar de Oficiais por meio de concurso público. A partir de 1997, a atuação feminina foi potencializada com a formação de engenheiras, médicas, dentistas e farmacêuticas militares pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e pela Escola de Saúde do Exército.
Novas oportunidades surgiram em 2014, com o ingresso de mulheres na qualificação de sargento músico. Outro marco importante foi em 2017, quando a inclusão na Linha do Ensino Militar Bélico permitiu que mulheres, pela primeira vez, marchassem pelos portões da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), da Escola de Sargentos de Logística (EsLog) e do Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx).
Olhando para o futuro próximo 2ck69
As primeiras soldados do Exército Brasileiro vão incorporar em 2026, pois o alistamento militar feminino teve início em 2025. Também no próximo ano, as cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) poderão optar por seguir carreira na Arma de Comunicações, demonstrando um caminho de constante expansão para a presença feminina no Exército.