“Colapso”: produtor de arroz avalia cenário de crise no setor 605161

8 de junho de 2025 - Severamente castigado pela enchente de maio de 2024, produtor de arroz avalia cenário de crise do setor orizícola / Foto: Arquivo

Após sofrerem duramente com as enchentes históricas de 2024, que devastaram lavouras inteiras e comprometeram estruturas produtivas, os arrozeiros do Rio Grande do Sul enfrentam agora uma nova crise — desta vez, provocada pelo próprio mercado. O preço pago pela saca de arroz não cobre sequer os custos de produção, o que aprofunda o endividamento no campo e ameaça a continuidade da atividade.

De acordo com o produtor rural e ex-presidente da União Central de Rizicultores (UCR) de Cachoeira do Sul, Pinto Kochenborger, o cenário é desanimador. “Depois de perder a safra e o patrimônio nas enchentes, 2025 era o ano para tentar se reerguer com uma boa colheita. Mas o que recebemos agora é um prejuízo ainda maior, imposto pelos preços aviltantes do mercado”, lamenta o produtor, que amargou um prejuízo milionário com perda de maquinário e infraestrutura na sua granja, na localidade de Porteira Sete, no interior de Cachoeira do Sul.

O custo da produção de arroz por hectare no RS 42111x

Kochenborger detalha que o custo médio para produzir arroz no Rio Grande do Sul gira em torno de R$ 14,5 mil por hectare. Com uma produtividade estimada em 9 mil quilos por hectare — o equivalente a 180 sacas de 50 quilos —, o custo por saca fica em torno de R$ 80,55. Porém, no mercado atual, o produto está sendo comprado por apenas R$ 65,00, resultando em uma perda de R$ 15,55 por saca. (CONTINUA ABAIXO DA PUBLICIDADE)

“E esses números ainda são otimistas. Muitos produtores não conseguem alcançar essa produtividade, e o custo por saca sobe ainda mais”, destaca o líder arrozeiro.

Setor arrozeiro vive sensação de injustiça 243242

A frustração se intensifica diante da percepção de injustiça na cadeia produtiva. Enquanto o produtor recebe cerca de R$ 1,30 por quilo de arroz em casca, o consumidor final paga entre R$ 7,99 e R$ 9,49 pelo quilo do arroz branco. Uma saca de 50 kg de arroz colhido no RS pode render mais de 30 kg de arroz beneficiado, além de subprodutos como farelo e quirera. “Se essa lógica continuar, em breve estaremos trocando arroz de qualidade por farelo para alimentar porcos. Há algo muito errado acontecendo”, dispara Kochenborger.

Ele também ressalta a situação de fragilidade do setor produtivo frente às intempéries e à lógica de mercado. “Somos o único elo da cadeia que não consegue definir o preço do que produz. Temos uma indústria a céu aberto, dependente do clima e de variáveis econômicas, e ainda somos humilhados quando tentamos nos manifestar”.

Diante desse cenário, produtores cobram uma atuação mais firme dos órgãos governamentais e reguladores. “Se nada for feito, essa atividade secular e essencial para a segurança alimentar do país pode ser extinta. E quando faltar arroz, talvez se compreenda o valor de quem o produz”, finaliza o produtor.

Manifestações nas rodovias 3pj1a

Nas últimas semanas, produtores de arroz têm manifestado o cenário de crise com mobilizações em rodovias de todo o Rio Grande do Sul. As delegações de Cachoeira do Sul têm se concentrado principalmente na BR-290, em Pantano Grande, mas há outros pontos na região que também concentram manifestantes, como a RSC-287, em Novo Cabrais, e o entroncamento da ERS-403 com a ERS-410, no Capão do Valo, assim como em todas as demais regiões do Rio Grande do Sul. Nesses locais, o trânsito fica mais lento e os produtores fazem panfletagem para colocar a sociedade a par do cenário de crise no agronegócio gaúcho.

O pedido inicialmente encaminhado pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura do RS (Fetag-RS), em fevereiro, previa a prorrogação de todos os vencimentos por quatro meses e uma posterior negociação no prazo de 12 anos. O pedido foi visto como inviável pelo governo. Agora, a sinalização permitiu que o produtor com operações de custeio pelo Pronaf prorrogue em três anos a dívida.

Protesto na BR-290: produtores seguem na cobrança por medidas de socorro ao setor por parte do governo federal / Foto: Divulgação

Protesto na BR-290: produtores têm se concentrado nas rodovias na cobrança por medidas de socorro ao setor por parte do governo federal / Foto: Divulgação

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O pedido inicial, já rejeitado pelo governo federal por falta de caixa, pleiteava o prazo de 20 anos para os pagamentos em aberto, considerando todas as dívidas de custeio, de investimento e de cooperativas e cerealistas. Propostas referentes ao projeto seguem em negociação, como o PL de conversão das dívidas em títulos do Tesouro.

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